História e curiosidades das maratonas aquáticas
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A natação em águas abertas é realizada em lagos, rios, baías, represas, canais ou oceanos, sendo reconhecida como modalidade esportiva desde 1810, quando Lord Byron nadou da Europa para a Ásia através do Hellespont, atualmente conhecido como Dardanelos (Davis, 2013).
Em 1875, Matthew Webb nadou da Inglaterra até a França, sendo escoltado apenas por um barco a remo, amarrado a uma corda de sisal para não se perder durante a noite, utilizando conhaque como parte de sua hidratação e bacon para se alimentar no intuito de manter seu corpo aquecido e com níveis de energia suficientes para suportar a dura travessia. Desde então, muitos nadadores superaram o desafio de atravessar o Canal da Mancha . Se você tem o desejo de nadar em águas abertas, as competições oferecem uma ampla variedade de distâncias, com diferentes condições ambientais, podendo ser realizadas em lagos tranquilos até em águas oceânicas.
*CRÉDITOS DAS FOTOS: ALEXANDRE KIRILOS, experiente nadador brasileiro, com diversas travessias extremas em seu currículo, inclusive a travessia do CANAL DA MANCHA, nadando cerca de 51 km em 13 horas e 18 minutos em 20/09/2015.
Nos primeiros Jogos Olímpicos modernos em 1896, a natação em águas abertas estava entre os eventos competitivos. Contudo, conforme as piscinas se tornaram mais sofisticadas, a natação em piscinas substituiu a natação em águas abertas e essa modalidade deixou de ser considerada um esporte olímpico até os Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, quando foi considerada parte integrante do triatlo. Em 2008, nos Jogos Olímpicos de Pequim, foi implementada como uma competição específica, com o evento de 10 km em uma competição exclusiva da natação em águas abertas.
Desde então, essa modalidade esportiva vem ganhando visibilidade e entusiastas em todo o mundo, sendo sancionada em âmbito mundial pela FINA (Federação Internacional de Natação), órgão de administração de esportes aquáticos desde 1986. No Brasil, a CDBA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) é a reguladora das competições e atua segundo as normas estabelecidas pela FINA.
A natação em águas abertas é um esporte em rápido desenvolvimento e em plena expansão. Eventos de 5 a 25km são apresentados no campeonato mundial da FINA e o circuito internacional inclui maratonas e ultramaratonas de 5 a 88 km.
A maratona aquática em águas abertas é uma modalidade esportiva que integra a programação olímpica desde 2008 como maratona de 10 km, e os eventos foram incorporados ao campeonato bienal FINAWorld desde 1991, com distâncias de 5, 10 e 25 km. Cada distância requer um tipo de treinamento específico para otimizar o desempenho.
A natação em águas abertas apresenta desafios ambientais (ondas, marés e correntes imprevisíveis), que são fatores que podem influenciar a distância efetivamente percorrida pelos nadadores, exigindo maior condicionamento físico para completar a prova. Além disso, as competições podem ser realizadas tanto em água salgada como doce, em condições calmas ou difíceis, com temperaturas quentes ou frias e, ainda, com correntes, dependendo do horário, do clima/estação e do local.
Todo e qualquer evento de natação em águas abertas deve proporcionar um ambiente seguro para a competição, com acesso imediato à costa em pontos frequentes ao longo de todo o percurso, visando oferecer aos competidores segurança frente a qualquer problema a fim de que eles possam ser avaliados e tratados rapidamente.
As normas da FINA (2018) determinam parâmetros específicos para as maratonas realizadas em oceanos, que devem ter início na praia, com uma pequena corrida para a água, com o seguinte curso:
- Paralela à praia (costa);
- A largada é para ou ao redor de um ponto fixo, como um píer ou ilha;
- Circunda um percurso fechado marcado por boias;
- Segue um curso que é uma combinação de qualquer um dos itens acima.
Em algumas competições, existe, ainda, uma corrida final até a linha de chegada. Todos os eventos que seguem as regras estabelecidas pela FINA devem começar com um mergulho em uma plataforma fixa ou na água, devendo sempre encerrar no ambiente aquático. No entanto, as regras da FINA não se aplicam a largadas e conclusões de provas de praia/terra.
Segundo a FINA, a maioria das corridas oceânicas têm entre 2,5 e 8 km. Mas, algumas competições tradicionais podem ser de 5, 10, 15 e 25km. Independentemente do percurso a ser realizado, a segurança sempre é o fator primordial de escolha para realização de maratonas aquáticas em águas abertas,independente do ambiente de prova.
Quando realizada em lagos, rios, represas, canais ou baías, a maratona segue curso semelhante ao das competições ocorridas em oceanos (FINA, 2018):
- Paralelo a uma costa;
- A largada é para ou ao redor de um píer, rocha, ilha ou outro ponto de referência identificável;
- Circunda um percurso fechado, marcado por boias;
- Ponto a ponto.
As competições em lagos, rios, represas ou canais são mais fáceis de organizar do que os eventos oceânicos, pois, as variáveis da natação oceânica são maiores quando comparadas alagos e rios, que possuem maior constância..
Além das distâncias determinadas pela FINA para competições, em todo o mundo, existem outras distâncias não convencionais, como por exemplo:
MARATONA | DISTÂNCIA (Km) |
Canal da Mancha | 34 |
Catalina Channel | 32,2 |
Maratona del Golfo Capri-Napoli | 36 |
Manhattan Island | 40 |
Nos últimos anos, todos esses eventos têm ganhado um número crescente de participantes. Além dessas distâncias, ultramaratonas aquáticas também têm ganhado a atenção dos nadadores (Baldassarre et al., 2017).
Em 2011, o nadador Massimo Voltolina nadou 78,1 km, sendo o primeiro homem a atravessar o Mar Adriático de Punta Palascía (Itália) à Punta Linguetta (Albânia), em 23h44min (Baldassarre et al., 2017). Esse é um exemplo de natação de ultra resistência, realizada em condições solo, conquistada através de treinamentos em piscinas e simulações de prova com treinos em águas abertas.
Estudos indicam que o desempenho dos atletas da natação em águas abertas melhorou ao longo dos anos, enquanto a diferença entre homens e mulheres diminuiu (Knechtle et al., 2014; Rüst et al., 2014; Baldassarre et al., 2017).
As diferenças entre homens e mulheres na natação de águas abertas são menores quando comparadas com outros desempenhos de resistência ou ultra resistência. Estudos indicam que isso ocorre porque a composição corporal de atletas do sexo feminino conferiria várias vantagens em condições aquáticas que contribuem para a pequena diferença de desempenho entre homens e mulheres nessa modalidade esportiva (Baldassarre et al., 2017).
Outro fato interessante relatado no estudo realizado por Baldassarre et al. (2017), é que a idade dos participantes da natação em águas abertas tem aumentado ao longo das últimas quatro décadas. A maioria desses eventos são realizados por atletas com alto grau de condicionamento, porém, com faixas etárias extremamente variadas. Estabelecer uma idade específica de desempenho máximo pode ajudar aos treinadores a desenvolver periodização a longo prazo entre os ciclos olímpicos e estabelecer diretrizes para a identificação de novos talentos.
A idade de pico de desempenho na natação está relacionada à distância da prova. Nos eventos de piscina, a idade de pico aumentou com a distância decrescente, enquanto que, nos eventos em águas abertas, a idade de pico aumentou com o aumento da distância. Segundo Baldassarre et al. (2017), uma explicação para essa tendência pode ser o tempo diferente para melhorar características específicas nos desempenhos de velocidade e resistência. Além disso, as diferenças de maturação física, adaptação ao treinamento, habilidades aquáticas e experiência em provas tem uma influência importante sobre a idade de pico de desempenho dos atletas.
No que se refere ao desempenho de resistência atlética, a maioria dos estudos se concentra na corrida e no ciclismo, especificamente, existindo vários dados fisiológicos sobre estes atletas de elite, pois, é extremamente mais fácil simular em laboratório essas duas modalidades esportivas para saber o que acontece durante uma competição. A captação máxima de oxigênio (VO2máx.), o limiar de lactato (LT) e a eficiência foram considerados fatores limitantes da resistência e desempenho no estudo realizado por Joyner e Coyle (2008).
Baldassarre et al. (2017) afirmou que os diferentes parâmetros fisiológicos dos nadadores em águas abertas são comparáveis aos dos atletas que competem em diferentes esportes de resistência. Para sustentar alta velocidade de nado por muitas horas, esses atletas devem ser capazes de sustentar uma alta porcentagem de VO2máx (80-90%) por uma grande quantidade de tempo. Um bom nadador é capaz de converter a maior parte de seu vigor em potência útil para propulsão na água, e essa capacidade (eficiência de propulsão) pode ser avaliada medindo-se o comprimento de braçada do nadador a uma determinada velocidade. Assim o aprimoramento técnico tem mais efeitos no desempenho do que o aumento dos parâmetros fisiológicos.
Apesar de estudos específicos sobre atletas de competições em águas abertas ainda serem escassos, ao longo da última década, a popularidade dessa modalidade esportiva com eventos de ultra resistência tem aumentado.
Texto de DIOGO MILANI ZOPPI
Empresário do setor de academias e assessoria esportiva à mais de 13 anos, especializado internacionalmente em salvamento aquático é ultramaratonista com décadas de experiência, fundador do PROGRAMA XTREME SWIM, e cofundador do projeto NADANDO PELO PLANETA, que realiza ações esportivas extremas em paralelo à ações socioambientais destinadas a despertar e incentivar as pessoas sobre às consequências da poluição causada pelos homens e que afetam todo o nosso planeta.